Atletas olímpicos médicos alertam Governo para dificuldade de conciliar as carreiras

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Atletas olímpicos médicos alertam Governo para dificuldade de conciliar as carreiras

Francisco Belo concilia medicina com o projeto olímpico
Francisco Belo concilia medicina com o projeto olímpicoCOP
Atletas olímpicos portugueses relataram hoje as suas experiências na conciliação da medicina com o percurso no alto rendimento, na apresentação de um livro dedicado ao tema, interpelando o Governo para que facilite a carreira dual.

Recebemos e vamos tentar sair a jogar”, respondeu o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, referindo-se ao desafio deixado por Marta Onofre durante a apresentação do livro e abertura da exposição Atletas Olímpicos Médicos, na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa.

Pouco antes, a atleta que representou Portugal no salto com vara no Rio-2016 tinha revelado que, após regressar do Brasil, reuniu, na companhia dos também olímpicos Rui Bragança e Ana Rente, com responsáveis do Ministério da Saúde para abordar a possibilidade de ser dado aos atletas de alta competição mais tempo para concluírem a especialidade, sem que tivesse havido uma posterior resposta.

Depois de ouvir a recordista nacional do salto com vara dizer que espera que no futuro outros atletas tenham uma tarefa mais fácil na conciliação da carreira de alta competição com a medicina, Pedro Dias recordou que existe, neste momento, um projeto-piloto para “a extensão do programa” das unidades de apoio ao alto rendimento na escola.

Seguramente temos de o reforçar, mas recentemente foi alargado ao Ensino Superior. Vamos necessitar do vosso apoio, nomeadamente da Ordem dos Médicos, na implementação deste piloto, porque sabemos que temos um número significativo de estudantes-atletas na medicina, que anualmente têm tido muitas dificuldades nesta conciliação”, declarou, prometendo que o Governo tudo fará para que este projeto-piloto “seja um sucesso” e que seja implementado “no ano seguinte em todas as instituições do Ensino Superior”.

O secretário de Estado do Desporto enalteceu “a excelência” do trabalho “como médicos e atletas” daqueles que ficaram perpetuados no livro, que reúne a história de 18 olímpicos com carreira na medicina.

Antes, tinham discursado os ‘protagonistas’ da obra, com Rui Bragança a ser o primeiro a tomar a palavra, para garantir que “se não fosse o taekwondo, não era médico”.

Quem foi olímpico tem uma maneira diferente de ver as coisas e eu espero estar à altura, a trazer as aprendizagens de 20 anos de taekwondo para a medicina”, confessou, num contraponto com Francisco Belo, que espera tornar-se “tão bom médico” como é lançador de peso.

Além do recém-coroado campeão ibero-americano, que esteve em Tóquio-2020, também Marta Onofre falou da ‘herança’ de “16 anos de conciliação da carreira dual”.

Estes últimos 16 anos foram anos de muito trabalho, muita dor e muita frustração, que apesar de tudo são mais constantes do que os momentos em que nos sentimos realizados. Esses anos permitiram-me ser a pessoa que sou hoje”, afirmou, assumindo que conciliar a medicina e a maternidade “com uma carreira de alto rendimento é uma perfeita loucura”.

Na apresentação, estiveram presentes também o antigo bastonário da Ordem dos Médicos e atirador olímpico António Gentil Martins, Jacques Pena (tiro), Joaquim Ramada (vela) e o presidente da Federação Portuguesa de Vela, Mário Quina, em representação do pai e único médico que ganhou uma medalha olímpica: o velejador Mário Gentil Quina, prata em Roma1960.

Todos os exemplos que temos neste livro são mais do que exemplos bem conseguidos”, defendeu, por sua parte, José Costa, secretário-geral da Comissão de Atletas Olímpicos, salientando ainda o facto de estes 18 casos serem exemplo de alguém que “teve a capacidade de conjugar dois mundos que muitas vezes não se tocam e são difíceis de coexistir”.

Além da complexidade que acarreta a carreira dual, a medicina tem outra particularidade: permite que os atletas olímpicos possam exponenciar os valores olímpicos e a humanidade que adquirem enquanto atletas”, evidenciou.

Já depois de Artur Lopes, vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal, ter instado também o Governo a olhar para a questão da carreira dual de modo a que seja proporcionada a estes atletas-médicos “a vida que permita ligar uma paixão à outra”, também o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, defendeu que é preciso “fazer alguma coisa” e “desenvolver um caminho conjunto” para ajudar estes atletas.