Costinha: "Não vejo porque uma equipa portuguesa não possa vencer a Champions novamente"

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Costinha: "Não vejo porque uma equipa portuguesa não possa vencer a Champions novamente"

Costinha falou em exclusivo ao Flashscore
Costinha falou em exclusivo ao FlashscoreCD Nacional
Em entrevista exclusiva ao Flashscore, Costinha reviveu a noite mágica em Old Trafford, abordou as possibilidades de uma equipa voltar a repetir o feito do FC Porto entre 2003 e 2004. Comentou a mudança na presidência do FC Porto, colocou a fasquia da Seleção Nacional no topo antes do Campeonato da Europa e confirmou o desejo de voltar a treinar.

Enquanto jogador, conquistou uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões, uma Taça Intercontinental, é bicampeão português e vencedor do campeonato francês. Passou por Espanha (Atlético Madrid), França (Mónaco), Rússia (Dínamo Moscovo) e Itália (Atalanta), sendo que em Portugal destacou-se no FC Porto de José Mourinho. Foi internacional em 53 ocasiões, sendo que esteve nos Europeus de 2000 e 2004, bem como no Mundial de 2006.

Mais tarde enveredou pela carreira de treinador, passando pelos bancos de Beira-Mar, Paços de Ferreira, Académica e Nacional, isto depois de passagens pelo Sporting e Servette como diretor desportivo.

Francisco José Rodrigues da Costa, conhecido no mundo do futebol como Costinha esteve à conversa com o Flashscore.

- De todos os títulos da carreira, qual é que te deu mais gozo vencer?

- Diria que a Liga dos Campeões, como é óbvio. É a competição mais importante do mundo a nível de clubes, onde estão as melhores equipas, onde estão quase sempre os melhores jogadores. É a competição mais importante no meu currículo, embora, como eu costumo dizer sempre, qualquer título, por mais pequeno seja, é sempre saboroso porque é o culminar de um trabalho árduo de uma temporada.

- Naturalmente que nessas memórias de Champions há aquele golo ao Manchester United que ocupa um lugar especial...

- Foi um golo muito importante para o FC Porto, para as carreiras de todos, inclusive do treinador (José Mourinho), que já o disse, e escolheu recentemente a celebração em Old Trafford como a foto mais icónica da carreira dele. É um golo que traz a todos nós e ao clube um peso e uma credibilidade maior. É, seguramente, um momento importante. Agora, deixa-me dizer que essa Liga dos Campeões provém de uma conquista de uma Taça UEFA, em que muita gente disse que o FC Porto tinha vencido a menor competição europeia. Por isso ainda nos deu mais gozo vencer a Champions a seguir. Obviamente que nesta competição podes ter uma estrelinha, mas houve uma continuação de um grupo, de uma filosofia, de uma ambição. Existem momentos importantes nesta caminhada. Esse (o golo ao Manchester United) é um, porque define a passagem contra um dos favoritos, mas o que é certo é que tivemos jogos também eles muito importantes e com qualidade. Lembro-me das duas mãos contra um Deportivo Corunha muito bom, experiente, que nos obrigou a estar ao melhor nível. Ainda para mais tínhamos cinco ou seis jogadores que sabiam que se vissem amarelo no segundo jogo não iam estar na final e as coisas podiam ter sido diferentes. Há o jogo de Lyon, que sabíamos que era uma equipa difícil e que fizemos um super trabalho em casa e conseguimos uma vantagem muito positiva. No meio deste trajeto há jogos e momentos que foram importantes.

- E num futuro próximo será possível uma equipa portuguesa repetir aquilo que o FC Porto fez?

- Vejo que é possível, porque existe qualidade. Portugal tem bons jogadores, excelentes treinadores, precisa de aumentar a competitividade da Liga, mas tem boas equipas. Depois, a Liga dos Campeões depende muito dos momentos, a forma como os grupos são trabalhados, da ambição e da consistência e eu não retiro essas capacidades às equipas portuguesas. Temos visto nos últimos anos outras equipas aparecerem com orçamentos maiores e capacidade de levar os melhores jogadores, mas o que é certo é que por vezes aparecem equipas, e o FC Porto foi uma delas, que se intrometem na luta. E se já aconteceu uma vez, mesmo o Benfica esteve nos quartos de final recentemente, eu não vejo porque não poderá acontecer novamente. É uma tarefa árdua porque se joga na melhor competição com os melhores jogadores e equipas e por isso é preciso um trabalho capaz, sólido e uma competência muito grande. Não se pode contratar um treinador para o despedir ao fim de três meses, é preciso dar tempo. Temos o exemplo do Manchester City que contratou jogadores de qualidade e só ao fim de seis, sete anos é que conseguiu vencer, mas não deixa de ter excelentes nomes e um grande treinador. Há todo um caminho a percorrer, mas não retiro capacidade às equipas portuguesas de poderem chegar uma final e poder vencer.

Costinha com o troféu da Liga dos Campeões
Costinha com o troféu da Liga dos CampeõesFC Porto

- Falaste em competência e isso leva-me ao campeonato português. Na tua opinião, o Sporting foi mais competente que Benfica e FC Porto?

- Quando se ganha tens de ter mais competência que os outros. Foi o que aconteceu com o Sporting este ano, na época passada com o Benfica e há dois anos que o FC Porto. O Sporting fez uma época irrepreensível, foi mais competente que os rivais diretos e acaba por vencer com mérito e justiça.

- Assistimos também ao fim de 42 anos de Pinto da Costa no FC Porto. Está aí uma nova era com André Villas-Boas. O que te parece que poderá mudar?

- Vamos esperar para ver. Sai o presidente mais titulado de sempre, que fez do FC Porto um clube ganhador e vencedor. A história fala por si, não é preciso eu vir dizer, porque toda a gente conhece. E entra um presidente mais novo, que sempre quis e desejou. Tem uma matriz muito importante que é a mística que tem os adeptos, a aura que transporta, de querer ser um clube ambicioso. Está instituído naquele clube que a vitória é algo que se deve procurar sempre, independentemente do adversário. O que se espera é ver novamente um FC Porto agressivo, competente, a lutar com os rivais porque tem essa capacidade. Agora é preciso dar tempo, perceber o que o clube pode fazer, ou não. Vão entrar ideias diferentes e novas, mas a matriz de querer ganhar, de querer erguer o maior número de troféus vai-se manter, porque André Villas-Boas é uma pessoa ambiciosa.

As palavras de Costinha
As palavras de CostinhaOpta by Stats Perform, UEFA

- Essa matriz vencedora também se instalou na Seleção Nacional. Olhamos para a Alemanha e o próximo Europeu com o desejo de repetir o que alcançámos em 2016. Como ex-internacional achas que é uma ambição legítima?

- Creio que sim. Há uns dias estive com o selecionador (Roberto Martínez) num evento e disse-lhe que esperava muito da Seleção Nacional. Acredito muito no treinador, tem capacidade e qualidade. Temos uma geração espetacular e, portanto, penso que juntamente com a França, Inglaterra, Bélgica, Espanha e Alemanha são as seleções que vejo mais fortes para chegarem à conquista. Olha para Portugal a querer ser protagonista porque tem grandes jogadores e quando assim é ficas mais perto de poder chegar a uma vitória. É isso que se espera. Tem de ser pensado jogo a jogo, mas olho para a competência e vejo muita, portanto não posso dizer que com jogadores a jogar ao mais alto nível que vamos lá para ver se chegamos aos quartos. Tem de se assumir que queremos vencer. Se o fazemos ou não é outra situação. Eu estarei a torcer pelo meu país.

- Quando se fala em Portugal tem de se falar em Ronaldo, na longevidade do Pepe, na juventude de nomes como João Neves e Francisco Conceição. Temos aqui uma simbiose perfeita?

- Sim, por disse há pouco que existe a legítima ambição de ver o meu país levantar um troféu. Tens jogadores que foram e são importantes no panorama mundial. Estamos a falar do Cristiano Ronaldo que marca e parece o frasco do ketchup a abrir, o Pepe que com 41 anos deu lições a jogar Liga dos Campeões contra jogadores muitos mais novos. Depois tens a juventude e uma série de jogadores como Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Vitinha, Nuno Mendes, João Cancelo, António Silva, Rúben Dias, Palhinha, Rúben Neves, fora um Matheus Nunes. Deixei de fora alguns e não por mal. Tens uma geração com grande qualidade. Deixei para último o Francisco Conceição que eu gosto muito, um jogador à antiga, que vai para cima, estonteante. O Rafael Leão que para mim, e já lhe disse, precisa de ser mais consistente porque tem uma qualidade tremenda. Um João Félix. Vê bem a quantidade de jogadores que já disse e a dificuldade que será para Roberto Martínez fazer uma equipa, porque tem muita qualidade. Depois há o João Neves que apareceu no Benfica, tem muita qualidade, maturidade comparo-o sempre com o o outro João que começou no Sporting, o Moutinho. Não tem medo de pegar naquilo que é a tradição do clube e ser importante. Portugal vai numa fase muito boa em termos de talento, maturidade, experiência para fazer um Eurpeude grande qualidade.

Costinha com Cristiano Ronaldo no Euro-2004
Costinha com Cristiano Ronaldo no Euro-2004FPF

- Com tantos nomes, a principal dificuldade será saber quem fica de fora, porque teriam sempre qualidade para lá estar também...

- Eu diria que mais preocupados estão os treinadores que não têm essa qualidade para escolher. Ele vai escolher os melhores seguramente. Só cabem 26 na lista definitiva e os que forem são os que têm de ser acarinhados. É muita qualidade é preciso recentrar bem e por isso continuo a dizer que tenho grandes expectativas.

- Para finalizar a nossa conversa, em termos profissionais como vai a vida do Costinha? És comentador desportivo, estás no mundo empresarial, mas sentes falta do cheiro da relva?

- Tenho como objetivo regressar como treinador, não o escondo. Não têm aparecido as propostas que pretendia, como é óbvio. Estou a preparar-me bem, a minha equipa técnica tem feito bastantes estudos, alguns estágios para que no momento em que o telefone tocar, e espero que em breve, estejamos preparados para regressar. Agora tenho de dizer que também gosto de comentar jogos porque também se está a aprender, a reeducar o que são as novas tendências do futebol mundial, com muitos treinadores que vão aparecendo. Vamos ver se daqui a umas semanas podemos estar a falar de outra maneira. Se não for o caso, continuarei aquilo que estou a fazer. O mundo empresarial também é muito bonito e que se calhar daqui a 15 anos vai passar a ser o meu negócio exclusivo. São muitos anos ligado ao futebol e chega a uma altura que é preciso olhar para outras coisas porque a vida não é só futebol, apesar de o futebol ser a minha vida.

Costinha apresentado como treinador do Paços de Ferreira
Costinha apresentado como treinador do Paços de FerreiraPaços de Ferreira