Michele Mouton defende que a mentalidade é a chave para mais mulheres no desporto motorizado

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Michele Mouton defende que a mentalidade é a chave para mais mulheres no desporto motorizado

Michele Mouton, presidente da Comissão das Mulheres nos Desportos Motorizados da Federação Internacional do Automóvel (FIA)
Michele Mouton, presidente da Comissão das Mulheres nos Desportos Motorizados da Federação Internacional do Automóvel (FIA)AFP
A mentalidade competitiva é a razão apontada pela antiga piloto francesa Michele Mouton para a escassez de mulheres a competirem nos desportos motorizados.

“Não se pode estar neste desporto só pela exposição, pelo facto de ser a única mulher no meio de um desporto de homens. Se não gostar da velocidade, do desafio, de ultrapassar os seus limites, é muito difícil. Este não é um desporto em que se consiga chegar ao topo facilmente e só porque se quer. É preciso trabalhar muito, treinar. Não é como nos outros desportos, é preciso investir o seu tempo e energia”, afirmou Michele Mouton, em entrevista à agência Lusa.

A antiga piloto de ralis e atual presidente da Comissão das Mulheres nos Desportos Motorizados da Federação Internacional do Automóvel (FIA) considera que são necessárias mais vontade e determinação para haver mais mulheres em competição.

Vencedora de quatro provas do Campeonato do Mundo, incluindo o Rali de Portugal, em 1982, Mouton lamenta que o foco dos jovens esteja cada vez mais nas redes sociais.

“O que vejo na maior parte do tempo é que os jovens têm muito mais energia para se mostrarem no Instagram ou no Facebook do que em quantas décimas de segundo ganharam numa especial, dentro do carro. Esse é outro dos problemas. Hoje em dia, preferem saber quantos seguidores têm do que lutar. Infelizmente, este não é um desporto em que se chegue ao topo só porque se quer. É preciso lutar por isso”, sublinhou.

À margem da 57.ª edição do Rali de Portugal, que terminou no domingo, o promotor do Campeonato do Mundo (WRC) apresentou um programa de deteção de talentos femininos, com o objetivo de aumentar o número de mulheres no campeonato. Uma ideia que Michele Mouton aprova, apesar de considerar que isso só resolve parte do problema. A outra metade depende das próprias jovens.

“Quem me dera voltar a ter (agora) 20 anos, porque no meu tempo precisávamos de encontrar os patrocínios, tínhamos de fazer tudo. Agora, desde o promotor, às equipas, todos ajudam as raparigas. Não se sabe quantas vão aderir mas se o programa pudesse ajudar uma ou duas já seria fantástico. É uma excelente oportunidade. Mas é preciso estar motivada”, apontou.

A francesa recordou o início da sua carreira, nos anos 1970, quando decidiu arriscar: “Quando comecei, não sabia se seria boa. Mas comecei”.

“Depois, quis melhorar, ser mais rápida, tentei ser sempre mais rápida e nunca desisti. Ok, não tínhamos Instagram ou telemóveis nem nada disso. Mas agora é uma história diferente. Para mim, a motivação é o mais importante. Pilotar depressa depende mais da cabeça do que do pé”, sentenciou.

Mouton defende o alargamento da base de recrutamento feminina, mas também motivar as raparigas a experimentarem a competição automóvel.

“É mais uma questão de trabalho do que de talento. A certa altura, sabes que não vais mais depressa mas se queres bater o adversário, tens de encontrar a solução para ires mais depressa. O que faz a diferença é a motivação. No meu caso, eu não podia aceitar ser mais lenta do que o colega que tinha o mesmo carro que eu. Tínhamos o mesmo carro e, para mim, não era aceitável ser mais lenta se os carros eram iguais. Não sabia como fazê-lo mas tentava ir o mais depressa possível”, garantiu.

E tentava fazê-lo, independentemente da aparência: “Se não tivermos essa mentalidade... eu gosto do desafio e de lutar. Não queria saber se estava despenteada para as fotos, se falavam bem de mim, ou mal. Não queria saber. Só queria atingir o nível deles. E tinha essa motivação”, recordou Michele Mouton, apesar de nunca ter tido como objetivo ser piloto de ralis.